Caros colegas de curso, graduados
e graduandos.
Tenho rotineiramente visto a
movimentação virtual no grupo criado no Facebook como espaço para os tecnólogos
em C&R do IFMG. Como boa parte de vocês, de certa forma, tenho ido do
desencantamento à desilusão com o nosso curso.
Cotidianamente, tenho procurado
informações que possam dar perspectivas de novas oportunidades ou espaços nos
quais possamos desenvolver uma carreira na área. Busco concursos, vagas de
emprego; envio currículos ou tento contatos, mas, infelizmente, tem sido quase
tudo em vão.
Alguns podem perguntar: mas você
já não está empregado? Respondo da seguinte forma: sim, estou empregado em uma
boa empresa da cidade de Ouro Preto, que me deu uma oportunidade rara na nossa
atual situação. Porém, um simples fato faz-me estar tão preocupado quanto todos
os que se formaram ou estão por se formar: a falta do registro no órgão de
classe, simplesmente, nos torna anônimos enquanto profissionais. Fora dos
limites no IFMG nossa profissão não existe, nem mesmo podemos no enquadrar em
alguma classificação existente entre as que fazem parte da CBO - Classificação
Brasileira de Ocupações. Em linhas gerais, ao sermos empregados temos que ser
contratados em cargos genéricos e por mais que estejamos bem preparados, ficamos
restritos pela condição que nossa profissão se encontra.
Tenho me preparado, além da
graduação fiz uma especialização na UFMG, em gestão do patrimônio histórico e
cultural; estou cursando o mestrado em educação tecnológica pelo CEFET-MG, mas cada
dia que passa tenho sentido que esse esforço ainda não será suficiente. Estudei
no maior Instituto Federal do estado, me especializei em uma das melhores
universidades do país e curso o mestrado numa instituição que, até pouco tempo,
foi, se ainda não é, a referência mais forte em Minas Gerais em ensino técnico
e tecnológico; mesmo assim isso adianta muito pouco nesse momento.
Dediquei-me com afinco ao curso de
C&R, fiz tudo o que pude enquanto aluno para aproveitar a oportunidade que
me era dada na graduação. Tive bons professores, que possuem currículos de
respeito na área da restauração. Mas sinto que empreguei 3 anos de minha vida para
algo que não me permite aproveitar em plenas condições. Como tecnólogos, até
mesmo ingressar por PDG na UFOP, por exemplo, é difícil. Somos os quintos da
lista, depois: dos que reingressam, dos transferidos de outras instituições, dos
formados na UFOP e dos que se formaram em outras instituições, federais ou
particulares.
Por outro lado, tem os concursos
públicos. Felizmente, podemos tentar aqueles que exigem formação em qualquer
nível superior. Naqueles que são destinados a nossa área de atuação, temos que
contar com a sorte para que não haja alguma condição que nos exclua, o que não
é incomum. As vagas normalmente são para arquitetos, engenheiros,
historiadores, antropólogos, sociólogos, licenciados, entre outras formações. E
para piorar, um dos poucos concursos que o IFMG abriu para professor do curso
em C&R havia a necessidade de compartilha-lo com o curso de edificações.
Com isso, a condições do concurso citado: exigências = graduação em arquitetura
ou engenharia civil. Quando nem mesmo a casa cria demanda, quem dirá os outros!
É certo que algumas condições nos
são tiradas pelo caráter de nossa formação enquanto tecnólogos. Os cursos de
tecnologia existem no Brasil desde a década de 70, foram criados com o intuito
de formar profissionais de nível superior em nichos específicos, de maneira
mais rápida e focada que os cursos convencionais de bacharelado. Após um início
pouco promissor, as graduações tecnológicas foram praticamente abandonadas por
parte das instituições de ensino até os anos 2000. Na recente expansão dos
cursos superiores, principalmente no Cefet’s e Institutos Federais, este tipo
de formação ganhou força como solução para o déficit educacional de nível
superior no mercado de trabalho e criaram-se titulações das mais variadas, que
vão dos tecnólogos em produção de cachaça aos de cunho industrial.
Apesar do fortalecimento proposto
pelo MEC, na criação de cursos tecnológicos, o mercado de trabalho ainda pouco
assimilou estes profissionais. Em todo o país, o estado de São Paulo é o que
apresenta um quadro mais promissor, do ponto de vista salarial e de condições
de trabalho. Entretanto, as áreas mais valorizadas entre as graduações
tecnológicas são as ligadas ao setor de computação e informática, enquanto as
da área de construção civil, certamente, enfrentam maiores dificuldades de
penetração, principalmente, pela concorrência com engenheiros e arquitetos. Não
obstante, o registro no órgão de classe é um requisito para a inserção dos
tecnólogos da construção civil.
Infelizmente, nossa situação não é
nada animadora. Mesmo após a liberação do registro no CAU ou Crea, teremos que provar
aos empregadores que somos profissionais indispensáveis na restauração.
Recentemente, em resposta a um trabalho que desenvolvi ainda nos tempos de Faop,
recebi uma indagação vinda de um técnico, da Câmara Setorial Paritária (CSP) -
Diretoria do Fundo Estadual de Cultura,
que analisava uma planilha de licitação com os seguintes dizeres: “Qual seria a função desempenhada pelo
Tecnólogo em Conservação e Restauro na obra em questão? Qual a necessidade de
contratação desse profissional? Um mestre de obras
experiente – como o previsto na planilha orçamentária, não poderia suprir
satisfatoriamente o papel desse profissional? Explicar e realizar as alterações
pertinentes”.
Infelizmente é essa a nossa situação
atual!
Tenho outras questões que pretendo
abordar em textos que em breve postarei no blog. Até lá saúdo a todos e
desejo-nos boa sorte.
Régis E. Martins
Mestrando
em Educação Tecnológica – CEFET/MG
Especialista
em Gestão do Patrimônio Histórico e Cultural – UFMG
Tecnólogo
em Conservação e Restauro – IFMG-OP
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