quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Carta aberta aos Tecnólogos em Conservação e Restauro, Ouro Preto 24/10/2012.


Caros colegas de curso, graduados e graduandos.

Tenho rotineiramente visto a movimentação virtual no grupo criado no Facebook como espaço para os tecnólogos em C&R do IFMG. Como boa parte de vocês, de certa forma, tenho ido do desencantamento à desilusão com o nosso curso.
Cotidianamente, tenho procurado informações que possam dar perspectivas de novas oportunidades ou espaços nos quais possamos desenvolver uma carreira na área. Busco concursos, vagas de emprego; envio currículos ou tento contatos, mas, infelizmente, tem sido quase tudo em vão.
Alguns podem perguntar: mas você já não está empregado? Respondo da seguinte forma: sim, estou empregado em uma boa empresa da cidade de Ouro Preto, que me deu uma oportunidade rara na nossa atual situação. Porém, um simples fato faz-me estar tão preocupado quanto todos os que se formaram ou estão por se formar: a falta do registro no órgão de classe, simplesmente, nos torna anônimos enquanto profissionais. Fora dos limites no IFMG nossa profissão não existe, nem mesmo podemos no enquadrar em alguma classificação existente entre as que fazem parte da CBO - Classificação Brasileira de Ocupações. Em linhas gerais, ao sermos empregados temos que ser contratados em cargos genéricos e por mais que estejamos bem preparados, ficamos restritos pela condição que nossa profissão se encontra.
Tenho me preparado, além da graduação fiz uma especialização na UFMG, em gestão do patrimônio histórico e cultural; estou cursando o mestrado em educação tecnológica pelo CEFET-MG, mas cada dia que passa tenho sentido que esse esforço ainda não será suficiente. Estudei no maior Instituto Federal do estado, me especializei em uma das melhores universidades do país e curso o mestrado numa instituição que, até pouco tempo, foi, se ainda não é, a referência mais forte em Minas Gerais em ensino técnico e tecnológico; mesmo assim isso adianta muito pouco nesse momento.
Dediquei-me com afinco ao curso de C&R, fiz tudo o que pude enquanto aluno para aproveitar a oportunidade que me era dada na graduação. Tive bons professores, que possuem currículos de respeito na área da restauração. Mas sinto que empreguei 3 anos de minha vida para algo que não me permite aproveitar em plenas condições. Como tecnólogos, até mesmo ingressar por PDG na UFOP, por exemplo, é difícil. Somos os quintos da lista, depois: dos que reingressam, dos transferidos de outras instituições, dos formados na UFOP e dos que se formaram em outras instituições, federais ou particulares.
Por outro lado, tem os concursos públicos. Felizmente, podemos tentar aqueles que exigem formação em qualquer nível superior. Naqueles que são destinados a nossa área de atuação, temos que contar com a sorte para que não haja alguma condição que nos exclua, o que não é incomum. As vagas normalmente são para arquitetos, engenheiros, historiadores, antropólogos, sociólogos, licenciados, entre outras formações. E para piorar, um dos poucos concursos que o IFMG abriu para professor do curso em C&R havia a necessidade de compartilha-lo com o curso de edificações. Com isso, a condições do concurso citado: exigências = graduação em arquitetura ou engenharia civil. Quando nem mesmo a casa cria demanda, quem dirá os outros!
É certo que algumas condições nos são tiradas pelo caráter de nossa formação enquanto tecnólogos. Os cursos de tecnologia existem no Brasil desde a década de 70, foram criados com o intuito de formar profissionais de nível superior em nichos específicos, de maneira mais rápida e focada que os cursos convencionais de bacharelado. Após um início pouco promissor, as graduações tecnológicas foram praticamente abandonadas por parte das instituições de ensino até os anos 2000. Na recente expansão dos cursos superiores, principalmente no Cefet’s e Institutos Federais, este tipo de formação ganhou força como solução para o déficit educacional de nível superior no mercado de trabalho e criaram-se titulações das mais variadas, que vão dos tecnólogos em produção de cachaça aos de cunho industrial.
Apesar do fortalecimento proposto pelo MEC, na criação de cursos tecnológicos, o mercado de trabalho ainda pouco assimilou estes profissionais. Em todo o país, o estado de São Paulo é o que apresenta um quadro mais promissor, do ponto de vista salarial e de condições de trabalho. Entretanto, as áreas mais valorizadas entre as graduações tecnológicas são as ligadas ao setor de computação e informática, enquanto as da área de construção civil, certamente, enfrentam maiores dificuldades de penetração, principalmente, pela concorrência com engenheiros e arquitetos. Não obstante, o registro no órgão de classe é um requisito para a inserção dos tecnólogos da construção civil.
Infelizmente, nossa situação não é nada animadora. Mesmo após a liberação do registro no CAU ou Crea, teremos que provar aos empregadores que somos profissionais indispensáveis na restauração. Recentemente, em resposta a um trabalho que desenvolvi ainda nos tempos de Faop, recebi uma indagação vinda de um técnico, da Câmara Setorial Paritária (CSP) - Diretoria do Fundo Estadual de Cultura, que analisava uma planilha de licitação com os seguintes dizeres: “Qual seria a função desempenhada pelo Tecnólogo em Conservação e Restauro na obra em questão? Qual a necessidade de contratação desse profissional? Um mestre de obras experiente – como o previsto na planilha orçamentária, não poderia suprir satisfatoriamente o papel desse profissional? Explicar e realizar as alterações pertinentes.
Infelizmente é essa a nossa situação atual!
Tenho outras questões que pretendo abordar em textos que em breve postarei no blog. Até lá saúdo a todos e desejo-nos boa sorte.

Régis E. Martins
Mestrando em Educação Tecnológica – CEFET/MG
Especialista em Gestão do Patrimônio Histórico e Cultural – UFMG
Tecnólogo em Conservação e Restauro – IFMG-OP



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